Uma semana após distúrbios londrinos, bairro tenta se reconstrui ~ News e Você

sábado, 13 de agosto de 2011

Uma semana após distúrbios londrinos, bairro tenta se reconstrui

As cicatrizes deixadas pela violência são visíveis nos prédios incendiados e nas lojas destruídas no bairro de Tottenham, onde começou a onda de distúrbios em Londres.

Mas, passada uma semana desde o primeiro dia de confrontos, enquanto máquinas consertam o asfalto danificado por um ônibus em chamas, ficam claros os esforços e a determinação para reconstruir a comunidade.

A atitude é resumida por Barbara, de 72 anos, que morou toda a sua vida em Tottenham.

- Ninguém está deprimido. Que escolha temos, a não ser tentar fazer o melhor possível?
Ela está entre os membros da igreja St Mary the Virgin, que fica a poucos metros de uma loja destruída pelos saques e que abriu na manhã seguinte ao primeiro dia de violência para prover refúgio a bombeiros. Ali perto, cartazes anunciam a realização de uma marcha pela paz.

Agora, a igreja está servindo os trabalhadores da construção civil local com chá, sanduíches e bolo.

“Comunidade boa”

Barbara diz ver com otimismo a atmosfera do bairro.

- Percebi, caminhando na rua, que pessoas geralmente ocupadas agora dizendo ‘bom dia’ enquanto passam. É uma pena o que aconteceu em Tottenham, mas nos recuperaremos. É uma boa comunidade.
O sentimento é compartilhado por um dos policiais que patrulham uma das ruas interditadas do bairro. Ele disse que, em geral, a população agradeceu a maior presença policial.

Os distúrbios londrinos começaram depois que a polícia matou Mark Duggan, de 29 anos, em Tottenham, morte esta seguida de um protesto pacífico diante da delegacia local.

O policial consultado pela BBC no bairro diz, com cautela, que a atmosfera em Londres pós-onda de violência é menos tensa.

- Antes, você percebia que as coisas iam mal.

Todas as folgas policiais estão canceladas até a próxima terça. Até lá, o policial terá trabalhado 16 dias consecutivos.

- Em geral, a população não costuma dizer coisas boas sobre os policiais. Mas, num momento em que têm medo, as pessoas apreciam a [ação da] polícia.

Negócios abalados

O empreendimento Thompson’s Seafoods, que existe há 22 anos em Tottenham, teve de ser fechado por conta do perímetro de isolamento imposto pelos policiais.

O funcionário James Pledger disse que os lucros estão dois terços menores do que em épocas normais, mas que ele se considera “sortudo” pelo fato de o comércio onde trabalha não ter sido destruído.

- As pessoas ainda estão um pouco temerosas de voltar às ruas, mas é preciso seguir em frente. Não podemos deixar que eles [agressores] nos abalem.

Bob Thompson, dono do negócio, defende o bairro de Tottenham.

- Há 47 nacionalidades aqui; nunca havíamos tido problemas. É uma pena. Todos pareciam felizes na tarde de sábado [passado]. Daí acordei no domingo, liguei a TV e pensei que estava na Irlanda do Norte [geralmente associada a conflitos sectários na Grã-Bretanha]. Fiquei chocado ao ver que era Tottenham.

Ele recomenda que seus vizinhos “relaxem e tentem voltar à vida normal. Esteve tudo bem pelos últimos 20 anos".

Mark St-Clair, de 37 anos, mora em frente a uma loja de tapetes completamente destruída nos distúrbios.

Ele estava viajando quando a onda de violência se desencadeou, mas sua companheira e dois filhos estavam em casa, “com as malas prontas” para partir por terem percebido a presença de delinquentes diante de sua porta.

Apesar do trauma, ele se diz otimista quanto ao futuro. Inclusive se casou na última quinta-feira na igreja de St Mary, em uma cerimônia um pouco afetada pelas circunstâncias.

- A rua estava bloqueada, então tivemos que dar uma volta [para chegar]. E muitas pessoas com quem trabalho ficaram com medo de vir. É terrível que [a violência] tenha escalonado a partir de um protesto pacífico – as pessoas se aproveitaram disso e decidiram fazer o que veio na cabeça.

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