Preocupada com a politização da troca de comando da Casa da Moeda, a presidente Dilma Rousseff pediu ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que desse ao PTB o devido lugar no episódio. Sem perder a confiança em Mantega, Dilma disse a ele que era preciso esclarecer logo o assunto para evitar um escândalo com repercussões imprevisíveis no mercado financeiro.
Na avaliação do Palácio do Planalto, o PTB quis jogar o problema com Luiz Felipe Denucci, indicado pelo partido, no colo de Mantega. Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma lembram que o PTB é a legenda de Roberto Jefferson, algoz dos petistas no escândalo do mensalão.
A presidente pediu a Mantega que desse uma entrevista em tom didático e com declarações duras para pôr fim aos rumores de que a equipe econômica estaria conivente com irregularidades.
Instruído por Dilma, o ministro admitiu na sexta-feira (3) que foi alertado mais de uma vez sobre possíveis erros de conduta do ex-presidente da Casa da Moeda, mas que as denúncias não justificariam seu afastamento.
Mantega atribuiu o desligamento de Denucci, no sábado passado, ao encerramento de sua missão no comando do órgão e às pressões políticas que vinha sofrendo por parte do PTB, partido responsável por sua indicação.
O ministro citou que as primeiras informações sobre Denucci foram publicadas em 2010, mas que se tratava de um problema com a Receita Federal de 2001. Um fato "requentado", na opinião de Mantega.
- Ele teria trazido recursos do exterior, depositado na conta, enfim... a Receita já tinha agido.
O ministro relatou ainda que Denucci passou por um procedimento administrativo, recorreu e que, recentemente, a multa aplicada foi "diminuída ou eliminada".
- Enfim, isso não tinha nenhuma interferência com a função que ele desempenhava. Portanto, não se justificava uma mudança por causa disso.
Sobre acusações feitas pelo próprio líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (PTB/GO), não só na Fazenda, mas também na Casa Civil, o ministro alegou que nenhuma delas foi formalizada.
- Ele [Jovair] fez acusações que não estavam fundamentadas. Eu até falei: 'Você tem algumas acusações para fazer, então faça por uma via legal, pois aí, sim, poderemos investigar'.
Numa entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em setembro, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, criticou o PTB por querer tirar Denucci.
- Sabe qual é o maior problema do PTB atualmente? O diretor da Casa da Moeda foi indicação do PTB no governo do presidente Lula. Agora eles querem trocar. Fica difícil, né?
O ministro enfatizou que a exoneração de Denucci foi esperada para ocorrer no momento mais adequado.
- Costumamos trocar os funcionários que cumprem as missões, muitas vezes o funcionário pede para sair. Nesse caso, ele estava sendo pressionado; uma pressão muito forte. Então, nós já estávamos dando andamento à sua substituição. Ele estava incomodado, estava querendo sair.
Mantega encerrou a entrevista na portaria do ministério sem responder à pergunta de jornalistas a respeito de investigações feitas pela Polícia Federal.
Reportagem de O Estado de S. Paulo revelou que a PF investiga movimentações financeiras milionárias do ex-presidente da Casa da Moeda.
Inquérito de 2006 ao qual o jornal teve acesso mostra que a Procuradoria da República no Rio de Janeiro apurou que um empréstimo de US$ 1 milhão (R$ 1,72 milhão) de um banco europeu, informado à Receita por Denucci, foi realizado apenas para dar aparência legal à internação desses recursos no país.
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