- Sejam bem-vindos, sejam bem-vindos! A pedido da reportagem do NVC, a secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro, Cláudia Costin, explicou a estratégia terapêutica a ser aplicada neste período de recuperação psicológica sem aulas, até o retorno das atividades normais: Destruição simbólica A emoção marcou o reencontro dos alunos que foram à escola no primeiro dia de aulas após o ataque (Foto: Fabio Motta/AE) Demolição Souza responde com educação e paciência. Ao seu lado, Karen olha reto, mas não mira nada. Um olhar distante, cercado por uma expressão de melancolia dilacerante. Mais um tempo na manhã e chegam os alunos da escola pública Nicarágua. Eles toparam a nobre missão de dar força para os colegas da escola de bairro, mas a coisa, como logo se notará, não será exatamente fácil. Meados da tarde. A maioria dos alunos volta para casa depois da aula de produção de mosaico.
O som da gritaria repetida por alunos da escola pública Nicarágua a cada estudante que passava pelo portão, a partir das 13h desta segunda-feira (18), foi a única demonstração de alegria notada do lado de fora da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona norte do Rio de Janeiro, nesta quinta-feira (18).
Os amigos da Nicarágua, vizinha de bairro, foram convidados para recepcionar as duas turmas de 9º ano (oitava série) do ensino fundamental no retorno à Tasso da Silveira. Onze dias depois, esses meninos e meninas entre 14 e 15 anos eram os primeiros oficialmente convocados a retornar ao palco em que testemunharam Wellington Menezes de Oliveira matar 12 alunos e ferir outros 12, na maior chacina em ambiente escolar da história do país.
- As duas salas mais envolvidas no ataque estão reformadas. As paredes foram derrubadas, pintadas e os espaços receberam novos móveis. Uma delas abriga agora a biblioteca. O aquário também está aqui.
E acrescentou:
- Neste momento, os alunos, orientados e apoiados por educadores e psicólogos, começam a reinventar o espaço físico da escola. Estão sugerindo novas soluções para determinadas áreas, modificando outras e aprendendo a recriar o espaço da escola.
A intenção dos psicólogos e diretores é levar os quase mil alunos da Tasso da Silveira a destruir simbolicamente (e em alguns pontos na prática) o antigo ambiente do prédio para estabelecer em seu lugar um espaço com outras características.
E o fundamental: um novo espaço construído com as mãos dos próprios alunos. É como se dissessem aos alunos: nossa escola é outra, não aquela, e esta aqui, a nova, foi construída por vocês. A tática parece inteligente. Só que o trabalho será infinitamente maior do que o necessário para essa “demolição” seguida de “reconstrução”.
Por um motivo simples: o bate-boca quase sem som desta manhã na rua General Bernardino de Matos, que abriga a Tasso da Silveira, abafado ainda pelo calor de rachar catedral do subúrbio profundo do Rio, só deu uma certeza ainda mais concreta de que, antes de tudo, a primeira reconstrução precisará ser feita na cabeça de cada um dos quase mil alunos da escola.
Em tese, a maioria dos adolescentes presentes nesta segunda insiste em dizer, em linhas gerais, que o sofrimento existe, mas que a escola é boa, não pode ser abandonada e todos haverão de se recuperar um dia.
Um discurso quase sempre acompanhado e repetido por pais e parentes.
Ok, é fato. Vida que segue. Mas a tarefa será, no mínimo, longa e delicada.
Logo no início da manhã, a recepcionista Renata dos Reis Rocha, de 35 anos, muleta de alumínio a reforçar o passo de uma das pernas, entra na Tasso da Silveira. Na saída, traz o histórico escolar da filha Brenda Rocha Tavares, de 13 anos, que está com as duas mãos feridas a bala. Bianca, irmã gêmea de Brenda, é uma das 12 assassinadas pelo insano.
Renata sai da escola e faz um desabafo. Diz não ter recebido a visita de nenhum psicólogo, avisa que vai tirar Brenda da Tasso da Silveira e dispara:
- Na minha opinião, isso poderia ser demolido. Não presta nem para patrimônio histórico.
Tudo na Tasso da Silveira está aparentemente sendo bem feito dentro do possível. Mas a tensão existe. Logo depois, Walmir de Souza sai da escola com Karen, de 11 anos, estudante do 5º ano. Os dois param no meio da rua e são cercados por jornalistas.
Até a semana passada, Karen balbuciava que não voltaria. Agora, balbucia que irá tentar se recuperar. A menina está o pó e a cena é de cortar o coração.
Anderson Crispino, de 11 anos, o mais falante da galera da Nicarágua, é cercado pela tropa de jornalistas.
Um repórter manda:
- O que você vai dizer para eles?
Anderson:
- Ééééé... É difícil...
O mesmo repórter insiste. Quer ouvir qualquer coisa.
Anderson se cala. Aperta o nariz com a mão esquerda. E desaba a chorar.
O motorista que trouxe a molecada invade a cena, puxa Anderson pelo braço e o leva para dentro da Tasso da Silveira.
Nessa batalha pela recuperação, é razoável aceitar que este é o momento da Tasso da Silveira pedir. Pedir e, sobretudo, ganhar.
Após se reunir com pais e alunos do 9º ano, a secretária Cláudia Costin anuncia: a escola terá Guarda Municipal fixa na porta, uma comissão permanente de psicólogos no processo de recuperação, mais dois inspetores nos corredores e um posto de atendimento para primeiros socorros médicos e odontológicos.
Do que pediu, ao menos nesta segunda-feira, levou tudo. Melhor assim.
Mosaico
A baiana Sueli dos Santos Estrela, de 36 anos, que diz ter vindo da Bahia apenas para abraçar o policial que atirou no matador, desiste de esperar com o sol na mufa encostada no agora pintado e alvo muro da escola e vai embora. Estaria de volta para a Pensão da Dona Magnólia, no centro do Rio, onde está hospedada.
Em frente ao portão principal, um aluno chuta e rasga, sem querer, um pedaço de jornal onde se lia a manchete: Sarney vai propor referendo sobre armas.
Sobra outro, a capa do diário carioca O Dia, que nesta segunda-feira (18) rasga o seguinte título: Alô, Alô, famílias de Realengo, aquele abraço! Nas fotos, o cantor Gilberto Gil, o craque Ronaldinho Gaúcho e outros com os braços cruzados na simulação do gesto tradicional de carinho.
Ao menos por enquanto, no caso específico da Tasso da Silveira, também ficou melhor assim.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Reconstrução de escola em Realengo está condicionada à recuperação de cada aluno
19:30
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